15 de agosto de 2011 Andreia Calçada

Suicídio e suas implicações na relação terapêutica.

Puxaram seu tapete….
No pensamento do psicólogo saudável, porém ingênuo, a possibilidade de que o suicídio venha a ocorrer com um de seus pacientes é remota. O que venho aqui afirmar é que o suicídio é um tema que vai rondar sua vida profissional, até que em certa altura da sua vida você vai encará-lo de frente.
            Portanto, prezado colega de profissão, é fundamental que você esteja atento aos sinais que podem surgir à sua frente.  A morte é um fato que nos toma e assalta deixando atrás dela um buraco vazio.  No adolescente que acaba de ser rejeitado pela namorada, no doente mental, no idoso e até mesmo na criança. Seja na área pessoal, seja pelas perdas vivenciadas pelos pacientes e que são emocionalmente acompanhadas de perto por nós.  Em casos de suicídio este buraco se amplia trazendo sensações antes desconhecidas, embora se remetam à morte.  A ausência de respostas, o silêncio imposto pelos atos e pela falta de palavras. Pelos atos impulsivos ou pelos atos programados, todos pautados em uma lógica própria individual que na maioria das vezes não entendemos, se tentarmos olhar através da nossa própria ótica.
O que será que eu deixei de fazer? Questiona a irmã do jovem suicida que busca elaborar seu luto através de uma tatuagem em seu próprio corpo.
            Preciso de uma explicação! Preciso do Por que! Grita a mulher desesperada.
Será que o que eu lhe disse na véspera fez com que tomasse aquela atitude? Implora por uma resposta a mãe culpada.
Será que deixei de fazer algo que pudesse ter impedido? Questiona-se o angustiado psicólogo.
Segundo Beck (1997) nenhuma estratégia anti-suicida tem utilidade a menos que o terapeuta seja capaz de detectar e avaliar o grau de intencionalidade suicida.  Afirma também a necessidade de encorajar o paciente a falar de suas idéias suicidas.  Você prezado colega, pergunta se seu paciente tem idéias suicidas? Se sente livre para isso? Vejo muita dificuldade nos profissionais em geral abordar temas mais fáceis, como por exemplo, perguntar se o paciente tem prazer sexual, se ele tem disfunções sexuais, imagine então falar em idéias suicidas. Precisamos ter mais liberdade para transitar no tema morte para tentarmos ajudar o paciente a trilhar um outro caminho.
O paciente suicida não encontra saídas, e vê o suicídio como alívio ao seu sofrimento.  Outros buscam com ele mudanças nas relações interpessoais através de atos tão extremos. O terapeuta precisa antes de tudo enxergar o mundo do paciente através das lentes dele, e observar e entender as crenças e concepções errôneas que levam o paciente a desejar não viver mais.  Desta forma, poderá estabelecer uma forma de trabalho com ele.  Segundo Beck, faz-se necessária a avaliação da severidade da depressão e desejos suicidas, obter uma visão geral da situação de vida do paciente para auto-objetividade e descobrir alguma porta de entrada para ingressar no mundo fenomenológico do paciente, e deste modo introduzir elementos de realidade. Este tipo de trabalho clínico denominado pelo próprio Beck de “empreendimento”, necessita de muito suporte interno e externo tanto do paciente através da família e profissionais que o acompanham como o psiquiatra e também do próprio psicólogo que precisa de base teórica, de um auto-conhecimento que lhe estruture e de uma supervisão com a qual possa se sentir acompanhado nesta jornada difícil que pode ser interrompida a qualquer momento. As pessoas podem se matar sim, não esqueça disto!

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