16 de maio de 2022 Andreia Calçada

Abuso sexual na infância imprime sérias marcas emocionais na vida adulta

Abuso sexual na infância imprime sérias marcas emocionais na vida adulta
– Artigo de Andreia Calçada no site Sinapsys.news

 

A partir de um estudo realizado pelo IBGE no ano passado, foi constatado que um em cada sete adolescentes brasileiros em idade escolar já sofreu algum tipo de abuso sexual ao longo da vida. Dado que preocupa, já que este tipo de violência imprime sérias marcas emocionais, pois expõe aquele indivíduo em formação, a uma experiência altamente traumática. Ficam expostas à sexualidade de forma inadequada para o seu nível de desenvolvimento psicossexual, gerando distúrbios ao longo da vida.

Defesas disfuncionais 

Vale entender que etimologicamente, a expressão “abuso” vem do latim abusu (fora do uso), ou seja, indica um uso fora do normal e do aceitável, uma extrapolação do direito. Ele é sempre algo que invade a integridade da personalidade da criança e do adolescente. Muitas vezes fragiliza e destrói essa estrutura, e gera defesas disfuncionais. Qualquer tipo de abuso é um dano grave e vai depender do contexto, da situação e das características de cada criança e adolescente para avaliar quais marcas estarão presentes até a vida adulta. Os danos psicológicos podem estar relacionados com a idade do início do abuso, a duração, o grau de violência, o quanto se tinha confiança neste abusador, se os laços eram estreitos, a diferença de idade entre o agressor e a vítima e a ausência de figuras protetoras no âmbito familiar.
Crianças ou adolescentes que sofrem abuso costumam apresentar desordens emocionais, sentimento de culpa, estigmatização, sintomas depressivos, baixa autoestima, choro sem motivo e tentativas de suicídio. Muitas vezes, a culpa e a vergonha acompanham o relato do menor. O abuso sexual pode acarretar atrasos educativos, tais como dificuldade de concentração e atenção, falta de motivação e fracasso escolar. Alterações de cunho social também são comuns no padrão de interação da vítima. São elas: mudança de conduta brusca, promiscuidade sexual, ou dificuldades nesta área, isolamento social e consumo de álcool ou drogas. No caso de adolescentes há a agressividade física ou verbal injustificada, roubos etc.

Sequelas emocionais profundas 

As vítimas de abuso sexual na infância, na maioria das vezes, tornam-se adultos com transtornos físicos, emocionais, comportamentais e psiquiátricos que impactam de diversas formas a conduta do indivíduo na idade adulta. Os transtornos mais relevantes são depressão grave, transtornos de personalidade e comportamentos psicóticos além das somatizações, tais como dor abdominal crônica, infecção urinária recorrente, corrimento vaginal. Ocorrem problemas de cunho sexual. A vítima perde a confiança, aspecto fundamental para o desenvolvimento saudável e para as relações afetivas em qualquer área.

Números crescentes 

A exploração sexual é uma das formas de abuso sexual, que abrange vários tipos de agressões como também aliciamento, assédio e estupro. No Brasil, segundo estudos de organizações da sociedade civil e dados governamentais, as crianças são as maiores vítimas da exploração sexual. O país ocupa o segundo lugar no ranking mundial. Mais da metade das vítimas são menores com idade entre 1 a 5 anos.
Em 2020, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) divulgou o balanço do Disque 100 com dados sobre violência sexual contra crianças e adolescentes que demonstram que houve um aumento de quase 14% em relação a 2018. Dos 159 mil registros feitos ao longo de 2019, 86,8 mil são violações de direitos de crianças e adolescentes. A violência sexual figura em 11% das denúncias que se referem a este grupo específico, o que corresponde a 17 mil ocorrências.

Um levantamento da ONDH permitiu identificar que a violência sexual acontece, em 73% dos casos, na casa da própria vítima ou do suspeito, mas é cometida por pai ou padrasto em 40% das denúncias. O suspeito é do sexo masculino em 87% dos registros e, igualmente, de idade adulta, entre 25 e 40 anos, para 62% dos casos. A vítima é adolescente, entre 12 e 17 anos, do sexo feminino em 46% das denúncias recebidas. Estes dados são importantes, porém não podem surgir como fator para generalização de conclusões em um processo judicial de acusação de abuso sexual. É essencial ter uma avaliação e investigação criteriosa e bem conduzida para que não haja um dano maior para quem sofreu o abuso.