Ansiedade e depressão são temas atuais e que infelizmente estão cada dia mais comuns entre crianças. Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) mostram que, no mundo, a depressão entre menores na faixa dos seis aos 12 anos saltou de 4,5% para 8% na última década. Por meio da minha experiência, atuando há mais de 20 anos como psicoterapeuta infantil e com psicodiagnóstico, percebo que ainda há a dificuldade dos profissionais da área em diagnosticar a depressão infantil. Ela possui particularidades, que precisam ser observadas. São diferentes as manifestações do problema entre crianças e adultos, em função do processo de desenvolvimento que existe na infância e adolescência. O sofrimento moral, por exemplo, responsável pela baixa autoestima no adulto, pode se apresentar como um sentimento de culpa e, na criança, como ciúme patológico do irmão mais novo, por exemplo.
As crianças em função da idade ainda têm maiores dificuldades em identificar e expressar o que sentem, portanto apresentam somatizações no corpo, problemas comportamentais como a agressividade por exemplo, problemas alimentares, além dos encontrados nos adultos como a tristeza continuada e a falta de motivação.
Por ser o transtorno depressivo infantil um transtorno do humor capaz de comprometer o desenvolvimento da criança ou do adolescente. Além de interferir com seu processo de maturidade psicológica e social, necessita de atenção especial, já que ao ser bem tratado nesta fase, pode prevenir problemas mais graves na adolescência e idade adulta. De forma mais grave gera um adolescente com problemas graves de autoestima, problemas de relacionamento e de desempenho que podem evoluir até mesmo para casos de suicídio. Pode prevenir também dificuldades menos graves como o desenvolvimento social e escolar pode ser menor que o esperado, ou seja, ela deixa de desenvolver seu potencial de forma plena.
Faz parte de uma avaliação psicológica adequada a integração dos sintomas apresentados, com o dados obtidos durante o processo diagnóstico, desde a entrevista com os pais (histórico familiar e dos sintomas da criança, bem como suas interações sociais), até sua interação com o examinador e o conteúdo de suas projeções lúdicas e em testes projetivos. Os conteúdos, daí advindos, darão, junto aos sintomas apresentados, uma consistência maior ao diagnóstico. O diagnóstico diferencial, entre a depressão infantil e sentimentos normais do desenvolvimento infantil, é fundamental. É normal que a criança sinta tristeza, raiva ou medo a dificuldade em se expressar pode gerar psicopatologia. Por exemplo, é normal que uma criança se sinta triste com a separação dos pais. Para isto, se faz necessário avaliar, também, sua situação familiar, existencial, seu nível de maturidade emocional e, principalmente, sua autoestima. Além das entrevistas com a criança, é muito importante obter informações sobre sua conduta, segundo informações dos pais, professores e outros colegas médicos ou psicólogos, costurando tais dados aos outros do processo diagnóstico. Importante também identificar o histórico de depressão na família já que o fator genético é importante.
Os critérios diagnósticos relacionados ao tempo e à motivação para os sentimentos depressivos devem ser levados em consideração. Os sintomas mais frequentes da depressão na infância e adolescência costumam ser os seguintes: insônia, choro, baixa concentração, fadiga, irritabilidade, rebeldia, tiques, medos, lentidão psicomotora, anorexia, problemas de memória, desesperança, ideações e tentativas de suicídio. A tristeza pode ou não estar presente. Os pesquisadores têm aumentado a constelação de sintomas associados à depressão infantil e, por causa disso, cada vez mais os distúrbios do comportamento da criança estão sendo relacionados a uma maneira depressiva de viver. Surgem, ainda, preocupações típicas de adultos, tais como, a saúde e a estabilidade dos pais, medo da separação e da morte e grande ansiedade.
O tratamento deste tipo de transtorno necessita de atenção especializada: psicoterapia, orientação à família, atuação conjunta escola-família e psicoterapeuta, além de avaliação psiquiátrica. O preconceito à medicação deve ser trabalhado junto aos pais, caso realmente se faça necessário o uso deste recurso.
Sintomas sugestivos:
Os principais sinais são os seguintes: mudanças significativas de humor; diminuição da atividade e do interesse; queda no rendimento escolar, perda da atenção; distúrbios do sono; aparecimento de condutas agressivas; autodepreciação; perda de energia física e mental; queixas somáticas; fobia escolar; perda ou aumento de peso; cansaço matinal; aumento da sensibilidade (irritação ou choro fácil); negativismo e pessimismo; sentimento de rejeição; ideias mórbidas sobre a vida; enurese e encoprese (urina ou defeca na cama); condutas antissociais e destrutivas; ansiedade e hipocondria.
Além disso, tendo em vista a característica atípica da maioria das depressões na infância, alguns autores começam a pensar neste diagnóstico para outras patologias bem definidas, como é o caso do déficit de atenção por hiperatividade, para certos casos de distúrbios de conduta (notadamente a rebeldia, oposição e agressividade) e para os transtornos fóbico-ansiosos. Supõe-se haver uma íntima relação entre todos esses quadros citados e, principalmente, na ansiedade da infância, quer seja como comorbidade ou como manifestações clínicas atípicas da depressão infantil.
O tratamento deste tipo de transtorno necessita de atenção especializada: psicoterapia, orientação à família, atuação conjunta escola-família e psicoterapeuta, além de avaliação psiquiátrica. O preconceito à medicação deve ser trabalhado junto aos pais, caso realmente se faça necessário o uso deste recurso.
Fonte: https://barraup.com.br/casos-de-depressao-infantil-estao-aumentando/