No livro Perdas irreparáveis, a psicóloga Andreia Calçada aborda, a partir de sua experiência clínica, uma das armas mais cruéis da alienação parental. Segundo a autora, as consequências da falsa acusação de abuso sexual se assemelham, e muito, às que acometem pessoas que realmente sofreram abuso. No livro, que já está em sua segunda edição, atualizada, a psicóloga faz uma abordagem ampla, relatando pesquisas e estudos sobre o assunto e também casos. Faz também um paralelo entre a falsa acusação e o abuso em si.
Perdas irreparáveis é fruto da experiência da autora nas varas de família e no consultório. Experiência que resultou em uma visão única e privilegiada do contexto das disputas pela guarda e seus desdobramentos legais e psicológicos, objeto da Lei da Alienação Parental, sancionada em 2010. A sua vivência com a perícia judicial de processos envolvendo famílias, conflitos relativos à guarda, visitação e acusações de abuso, entre outros, despertou a percepção de que muitas das alegações de violência sexual em conflitos familiares com disputa pelos filhos eram falsas. Isso a motivou a desenvolver uma pesquisa sobre o assunto que gerou outros dois livros: Falsas acusações de abuso sexual: o outro lado da história ( lançado em co-autoria em 2000) e Falsas acusações de abuso sexual e a implantação de falsas memórias ( 2008).
O livro atual amplia o que foi abordado nos livros anteriores, alinhavando de forma mais enfática a importância da atuação dos profissionais ligados ou não ao judiciário na prevenção da alienação parental. Para entender esse universo de disputas dos pais pela guarda dos filhos, Clube das Comadres conversou com a psicóloga Andreia Calçada. Se pudesse dar um conselho aos envolvidos nessa guerra, o que ela diria? “Diria que se informassem sobre os danos causados aos filhos e que buscassem cuidar de sua cabeça e seu coração para que pudessem lidar melhor com a situação que vive”.
Psicóloga: “acusado precisa se defender”
Por que uma edição atualizada do livro Perdas Irreparáveis?
“A mudança em leis, na área da saúde e novidades na atuação em Varas de Família são importantes para a atuação do profissional”.
O que mudou no contexto desde a primeira edição?
“Em novembro de 2014, tivemos a aprovação da nova Lei da Guarda compartilhada, que estabelece que a guarda compartilhada agora é regra no Brasil. Faz toda a diferença. Além disso, tivemos a edição do novo DSM Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais, o atual DSM-V, revisado. Importante também incluí-lo”.
O cenário melhorou ou piorou?
“Teoricamente melhorou. A nova lei é importantíssima, mas ainda precisa ser creditada pelos operadores do Direito. Entre eles, todos que atuam junto ao judiciário. Na prática, muita coisa ainda é dificultada no tocante ao compartilhamento da guarda e do convívio com os filhos”.
A lei da alienação parental existe, mas muitos pais continuam praticando. O que você diria para uma mãe/pai que pratica esse ato?
“Diria que se informassem sobre os danos causados aos filhos e que buscassem cuidar de sua cabeça e seu coração para que pudessem lidar melhor com a situação que vive”.
Nesse contexto, a acusação de abuso sexual é comum?
“Sim. As estatísticas informais das Varas de Família do RJ são de que a cada 10 acusações de abuso sexual em processos de litígio em família, 08 são falsas”.
Como o acusado pode se defender disso?
“Precisa ser pró-ativo no processo desde o início, ter um bom advogado, buscar ser ouvido desde o início e não ser litigante. Mas precisa se defender”.
Pais, protejam seus filhos dos conflitos
Quais as consequências dessas ações para as crianças?
“São graves. Antes de tudo, elas são afastadas de um dos pais. É claro que o abuso sexual é grave e toda acusação deve ser investigada. Porém, com serenidade e com profissionais capacitados desde o início. Conseguimos hoje que a criança faça visitas com o genitor acusado com monitoramento até que a investigação termine. O problema é que isso pode demorar muito”.
Nessa situação, percebemos que os pais perderam o bom senso. Como trazê-los de volta à realidade?
“Com informação, com penalidades e sansões que constam da Lei da Alienação Parental, com mediação familiar”.
Separação nem sempre é fácil, principalmente quando envolvem crianças. Quais dicas você costuma passar aos pais nesse momento tão delicado?
“Separar a conjugalidade da parentalidade, ou seja, o que é do ex-casal do que é da relação com os filhos. Protegê-los sempre do conflito”.
A guarda compartilhada melhorou a situação para as crianças?
“Vem melhorando. Porém, esta é uma mudança de cultura que veremos resultados mais a longo prazo”.
O que leva uma mãe colocar seus filhos contra o pai?
“Traição, ego ferido, doença mental, divisão patrimonial, transtornos de caráter”.
Na sua experiência clínica, qual a situação limite que você já viveu em relação à alienação parental?
“Assassinato e abuso de criança para incriminar o genitor alienado”.
Site clube das comadres em 13 de Junho de 2017